Pare e pense: que momento é esse que estamos a viver, principalmente, no Brasil?
O que estamos fazendo com um regime democrático e republicano que com muito sangue derramado, conseguimos instituir?
Vejam: estamos permitindo a ascensão do antissistema, fomentada por um elitismo histórico que se apropriou de uma narrativa de desconstrução das instituições republicanas e democráticas.
Por que tanto ódio, tanta amargura, tanto ressentimento? Quer dizer que se a vontade de parte da sociedade não prevalece, o correto é impô-la à força? Onde está a razão? Que momento é esse, no qual algumas pessoas se sentem no direito de promover ataques virulentos aos poderes constituídos da nossa República? O regime democrático exige respeito às instituições. E quando estes poderes são aviltados, há que se responsabilizar, com vistas à manutenção da ordem e do progresso.
Não concorda com o resultado das urnas? Aguarde, novas eleições virão. Eis a república. Eis a democracia.
E observe, falar de república e democracia é trazer ao campo prático como o povo escolheu se organizar no ambiente público-privado e, para qual fim se associou.
A democracia, para existir, necessita da república. Significa que para haver o acesso de todos aos bens públicos e privados é preciso refrear o desejo de mandar, compreendendo que, quando todos mandam, todos igualmente obedecem e, por conseguinte, devem saber cumprir a lei que emana de sua própria vontade.
Por conseguinte, a democracia, se efetiva sendo republicana. Isso significa que, ao mesmo tempo que ela nasce de um desejo que clama por realizar-se, também só pode conservar-se e expandir-se contendo e educando os desejos.
Na narrativa regencial de Norberto Bobbio estes desejos podem ser contidos e educados a partir da prática da ética e da virtude. Para ele, o fundamento de uma boa república, mais até do que as boas leis, é a virtude dos cidadãos.
Então, devemos lembrar que o espaço público existe para a prática do bem, da prudência, da temperança, da justiça, da fraternidade, da solidariedade, virtudes que devem manifestar-se por intermédio de nossas singularidades e com respeito a elas.
Então, na nossa república e democracia, supremo é o povo, entendendo que tal superioridade é exercida, por meio de representatividade eleita ou direta, nos termos da nossa Constituição, destinada a assegurar a todas as pessoas, independentemente de sua raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição, o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça.
Em uma democracia viva, não há pertencimento a somente um grupo, uma identidade, um gênero, um corpo, mas a todos aqueles que forjaram e forjam a nossa história e identidade. O meu direito deve comungar o respeito a escolha feita nas urnas. Quer fazer oposição? Faça, mas de forma séria. Não há luta legítima quando se vai às ruas sem propósito, bloqueia-se estradas sem motivação autêntica, chora-se na frente dos quartéis pedindo por intervenção militar. Isso não é oposição. É o choro dos mimados, dos frustrados, dos que não sabem perder. Recado: amor não faz barulho!
Soldados, animem-se, daqui 4 anos ocorrerá novamente a festa da democracia. Organizem-se como gente grande.
Fabiana Curi – advogada e professora